quarta-feira, 12 de novembro de 2014

My Favourite Faded Fantasy – Damien Rice

Após ouvir pela primeira vez, digo que estamos diante de um dos melhores discos do ano. Os 8 anos de lacuna de lançamentos de estúdio, Damien Rice volta com o vocal melhor do que nunca, com músicas que falam de amor com cinismo e tons autoflagelação, mas com uma incomum esperança, vindo do irlandês. Se ele encantou o mundo com a obra-prima “O” e repetiu a dose em “9”, fez esse mesmo mundo (quase) cansar de esperar. Muitos rumores surgiram sobre seu “desaparecimento”, não fazer shows, vídeos dele cantando nas ruas de Dublin davam o tom de melancolia ou mesmo depressão, inclusive pelo rompimento musical e afetivo com Lisa Hanningan. Sua voz, habitué nos primeiros discos, não faz falta nesse novo disco, mas há muito sobre ela no lançamento. E foi o melhor, a inspiração. Damien mostra seus demônios (sem trocadilho), exorciza-os e segue em frente.

São apenas 8 musicas que além do tenor potente, tem guitarra, piano, bateria, cordas e vozes auxiliares impecáveis. As canções tem início calmo e crescem próximo do fim, com potência e entrega dos envolvidos. A primera canção, homônima do disco, já estraçalha tudo, com letra poética e termina apoteótica, que acompanhada da segunda faixa, a longa “It Takes a Lot to Know a Man”, dizem para o que o Damien voltou. Não há melancolia, há crescimento. Há música boa, voz boa, letra boa. Já “The Greatest Bastard”, o próprio nome diz, é a dose de autoflagelação e o som que flerta com os cds anteriores (o que é uma delicia).

Chegamos ao meio do cd (já?) e com ele vem a música que certamente será um hit ou trilha de novela/filme. Tudo por conta do refrão belo e sonoro, que dão nome a “I Don’t Want To Change You”. Esperem e ouvirão, mesmo que não queiram. “Colour me In” segue um pouco a anterior, com voz calma, violão lento e que explode com um violino impecável e o piano. A menor música do disco, “The Box” é o grito de liberdade, não apenas pela letra que versa sobre isso, mas a voz de Damien diz isso. É linda. Vejam o clipe dessa música:


Otimismo nunca foi marca registrada do irlandês, mas “Trusty and True” é, talvez, seu marco sobre o otimismo. Apesar dos mais de 8 minutos de música, ela mostra a nova faceta de Damien. “Come, come along /Come with sorrows and songs / Come however you want / Just come, come along / Come, let yourself be wrong / Come how ever you want, just come”. Nunca imaginaria ouvir algo do tipo de Damien e por isso seja a música surpresa do disco, mas não por isso não seja boa. O fim chegou com “Long Long Way”. Um caminhada não tão longa, mas é um fim que flerta com o “velho” Damien. Parece até que ouvi uma voz feminina. Lisa? Não saberemos.



Confesso, sou fã de Damien Rice. Ele faz parte da trilha sonora da minha vida e ainda me lembro de partes do show que fez em São Paulo em 2009. Damien Rice fez se não o melhor, o mais belo álbum do ano. Tendo a dizer que fez o seu melhor álbum. Melhor, fez um álbum que esperamos por muitos anos. Damien flertou com o mundo pop por conta de “The Blowers Daughter” e seu sucesso no filme “Closer”. Mas o mundo pop não cabe pra ele. É muito folk pra isso. Folk? Não, Damien é um ser único, num tipo único de música. Não há como classificar num gênero que não seja o gênero “Damien Rice”. Ouçam. Ouvimos um músico único. Ouvi um cd maravilhoso. Que não demore mais 8 anos para o próximo. E tomara que tenhamos um turnê por aqui.

Site oficial: http://www.damienrice.com/

Vitor Stefano