A vida de Frida Kahlo já foi esmiuçada como os ossos de seu
corpo depois daquele acidente de bonde. Seus amores já foram pintados com os
detalhes dos murais de seu eterno amor, Diego Rivera. Seu sofrimento já foi
exposto como ela se expos nas suas telas cheias de imagens chocantes e ternas.
Diego, brilhante artista e muralista, sempre ficou à sua sombra, mas tem um
porquê. Frida sobrepõe à barreira artística pra estar eternamente no
inconsciente humano como exemplo de superação. Sua obra é sua vida e Diego
sabia que ela era uma artista pura, com o dom. Frida e Diego é o casal mais
icônico da história das artes plásticas e a peça “Frida y Diego” conta muito
sobre isso. Conta muito sobre quem foram Diego + Frida. Impossível
desassociá-los. São como um só.
A peça começa em 1940, no ano em que eles reatam o
casamento, após um ano de separação. Somos informados do ano e local por meio
de projeções em telas suspensas no palco. A partir daí, em forma de flashback,
somos conduzidos pela vida a dois, no íntimo, na amargura, no tesão, nas
traições, no amor, no companheirismo. Temos Diego no auge, Frida em crise com
suas obras, a inclinação e dúvidas ideológicas, a antítese dos dois comunistas
nos EUA, as traições, as brigas, a tequila. O humor e o drama permeiam todo o
espetáculo, como uma montanha russa. Destaque para a cena de um dos abortos que
Frida sofre, onde duas mortes brincam com ela e o feto. Uma cena dura e forte,
mas bela e poética. Outro grande destaque vai para o duo de músicos que fazem
intervenções pontuais, interessantes que dão dramaticidade e mexicanidade à
toda peça.
Quem gosta de Frida deve ver. Quem não gosta, também. A peça
é muito boa, tem bom jogo de projeções, a maquiagem é excelente, e porque não,
a vida dos dois é inspiradora e interessante. Há momentos em que pode se torna
cansativa pela repetição de cenas falando sobre os mesmos assuntos, como
traição. Mas vejam por Leona Cavalli e José Rubens Chachá. Ambos captaram a
essência dos personagens. Leona está lindamente feia e Chachá está estupendo
como o Panzón. Alguns podem pensar que Leona está overacting, mas a vida de
Frida é uma hipérbole dramática e intensa. Eles tem uma conexão digna de Frida
e Diego.
Teatro Raul Cortez – Rua Doutor Plínio Barreto, 285.
Em cartaz: Sexta, às 21h30; sábado, às 21h; domingo, às
19h, até 14/12/2014.
Ingressos: R$ 60,00 (às sextas-feiras), R$ 80,00 (aos
sábados) e R$ 70,00 (aos domingos).
Classificação indicativa: 12 anos.
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